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sábado, 13 de março de 2010

O ATO TRADUTÓRIO

 Por Helen Ilza Borges de Oliveira

A utilização de um estudo de caso para discutir as estratégias utilizadas na tradução de um texto em língua fonte (língua portuguesa) para uma língua meta (língua inglesa) visa à avaliação de várias questões pertinentes ao ato tradutório. Como delinear um método de tradução que seja relevante para corresponder às necessidades do tradutor e da tradução?

Para a verificação destes dados foi desenvolvido um trabalho com a utilização de um texto em língua fonte, que adota termos na área da medicina, para a língua meta. Durante a tradução foram analisados os aspectos relacionados à leitura e interpretação do texto; à definição do vocabulário mais adequado; à consulta a dicionários bilíngües e monolíngües em língua materna e estrangeira; à utilização de artigos da mesma área já traduzidos; e à revisão final.

Estas categorias visaram a interpretação de como são feitos o reconhecimento da obra e a leitura do artigo, para se ter a informação geral do assunto a ser traduzido e a familiarização com sua forma e conteúdo; de como são utilizados outros artigos existentes na mesma área para a verificação das expressões e termos pertinentes; de como são consultados os dicionários monolíngües que trazem considerações quanto aos aspectos sócio-culturais da LM, e os dicionários bilíngües de termos técnicos na área e, finalmente, de como a revisão é feita, para solucionar eventuais dúvidas e manter a fidelidade do conteúdo.

A perfeita análise do texto que seria traduzido deveria levar em consideração que qualquer mudança, seja lexical ou contextual, afetaria a interpretação do texto, para o leitor em LM. Isto porque em um trabalho de interpretação, como é o caso da tradução, nem sempre o que se obtém é uma aproximação precisa do texto em LF em todos os sentidos.

Para desenvolver seu trabalho, o tradutor teve, primeiramente, que munir-se de dicionários específicos em língua materna, monolíngüe, bilíngüe e de termos técnicos na área a ser traduzida, tanto quanto utilizar de outros artigos já traduzidos na mesma área.

O primeiro aspecto observado na realização da tradução foi a completa interpretação do texto a ser traduzido. Tal interpretação foi, inicialmente, realizada com a completa leitura do artigo, buscando o entendimento total do assunto. Neste sentido, entender o texto foi saber posteriormente descrevê-lo, dialogar sobre ele, discutir nuances de suas informações, como se fosse um especialista na área de conhecimento, a medicina.

Deve ser destacado que, por se tratar de uma tradução, a leitura não possuiu um sentido simplesmente de entretenimento, mas de estudo, de coleta de informações.

Para que essa produção de significados pudesse ser alcançada foram necessárias várias leituras. Primeiramente, foi realizada uma leitura geral sobre o texto em língua materna, em que o tradutor teve uma noção do tema a ser traduzido. Neste momento, o tradutor utilizou o dicionário de língua materna para o esclarecimento quanto a possíveis dúvidas de vocabulário.

Esta leitura, também, possibilitou ao tradutor um primeiro contato com os termos técnicos utilizados. A segunda leitura buscou esclarecer as dúvidas sobre o assunto determinado. Neste momento, foi interessante a utilização do Atlas, para que o assunto pudesse ser analisado mais profundamente. Em seguida, uma outra leitura teve a intenção de verificar a coerência do texto e, conseqüentemente, a compreensão do assunto pelo tradutor para que este estivesse apto a traduzi-lo para outra língua.

Por se tratar de um texto técnico, a sua análise levou em consideração o conhecimento do tradutor sobre a área em questão – a medicina, para que a interpretação pudesse ser estabelecida próxima ao original.

Deve-se notar que a tradução de um texto não-literário, seja técnico ou científico, possui a mesma importância de um texto literário, ou seja, não se trata somente de transposição de termos técnicos em um sentido denotativo, sem se preocupar com a idéia a ser transmitida e com os aspectos subjetivos que, às vezes, podem ser apresentados paralelamente à acepção em que a palavra é empregada.

Em seguida à análise textual, iniciou-se o lado prático do trabalho, ou seja, a tradução em si . Concomitante à utilização de um dicionário em língua materna na leitura, utilizou-se agora um dicionário bilíngüe de termos técnicos específicos sobre o assunto – como um meio externo auxiliar no processo (Hewson e Martin, 1991) – que foi útil para esclarecer possíveis dúvidas com relação ao sentido e ao significado de alguns termos. Após tal análise, outra interpretação do texto foi realizada, para verificar se dentro do contexto as palavras se relacionavam umas com as outras, se elas possuíam um sentido lógico permitindo, então, que o sentido esperado pelo escritor em LF pudesse ser alcançado pelo tradutor para a LM.

Porém, essa substituição de material textual não pôde ser feita sem que se considerasse a importância da semântica no processo, analisando as mudanças sofridas no tempo e no espaço pela significação das palavras. Pode-se dizer que ela está relacionada com um complexo sistema de relações de elementos lingüísticos, ou seja, cada língua, dentro de sua cultura, possui particularidades que podem alterar o sentido com o passar dos tempos. É este sentido que também sofre alterações quando se trata de termos técnicos, pois um lexema traduzido de forma errônea pode alterar o sentido do texto e ter conseqüências não apenas para a tradução em si, mas em toda a informação relevante nela contida.

Em um texto de qualquer extensão, seja técnico ou literário, uma determinada palavra pode aparecer diversas vezes, sendo que não necessariamente com o mesmo significado. Várias ocorrências podem possuir um equivalente textual específico em LM. Novamente, volta-se à questão da semântica, onde tais palavras podem ser afetadas por fatores contextuais.

Durante o ato tradutório, foram utilizados outros artigos já traduzidos, na mesma área, que puderam servir como auxiliar. Com eles, foi mais fácil a definição das expressões mais utilizadas no campo da medicina.

Os Atlas também podem ser uma útil ferramenta, pois como são explicativos, podem esclarecer dúvidas que o tradutor possui que somente com o uso dos dicionários não há como serem elucidadas.

A tradução do resumo forneceu uma visão geral de todo o texto, sendo que, neste momento, com o auxílio de um dicionário bilíngüe da área de Medicina, foram definidos os termos técnicos específicos para demonstrar um aspecto global do assunto em questão.

A linguagem a ser utilizada no resumo procurou ser aproximada do universo do leitor, para que ao ter um primeiro contato com o texto, ele pudesse se interessar pela leitura. Ou seja, a utilização de termos técnicos para a explicação do processo foi feita juntamente com um sentido conotativo, capaz de chamar a atenção do leitor sobre sua relevância para sua prática profissional.

Após a tradução ter sido realizada observando tais aspectos funcionais que o texto em si exigia, foi realizada uma revisão do trabalho - outra leitura - para verificar a existência de uma seqüência lógica mantendo as mesmas informações do original, e a existência de possíveis falhas. Nesta revisão o tradutor pôde verificar que, sempre, ao fazer uma releitura de seu trabalho pode ser possível encontrar um termo ou expressão que pode ser modificado ou melhorado.

Conforme o trabalho foi sendo realizado, foi possível observar alguns parâmetros relacionados às categorias analisadas como, por exemplo, a interpretação – leitura. A necessidade da leitura surgiu em dois momentos distintos – no início e na conclusão do trabalho. No início, para se ter uma idéia mais clara do assunto em questão e, na conclusão, para a verificação de alguma possível alteração de sentido quando relacionada com o original.

O tradutor pode ficar tentado a dar uma interpretação pessoal ou, até mesmo, nacional, visto que é a cultura com a qual ele está mais habituado. A imparcialidade do tradutor foi fundamental para que o trabalho fosse mais bem qualificado e, conseqüentemente, ele – o tradutor – mais bem reconhecido.

Durante todo o trabalho foi necessária a utilização do dicionário bilíngüe de termos técnicos na área de Medicina e do dicionário monolíngüe da língua e da cultura inglesa. Logo, a utilização do dicionário foi fundamental para a análise do significado das palavras (seja ele técnico ou cultural) dentro do contexto. O dicionário é útil, principalmente em se tratando da tradução técnica, porém, como todas as outras ferramentas, deve ser utilizada em paralelo com o conhecimento do tradutor.

Durante a realização deste trabalho, em alguns momentos foram encontradas dificuldades que, expostas aqui, visam alertar aos profissionais para que se preparem para eventuais problemas.
Uma das dificuldades apresentadas foi com relação à utilização de dicionários. Um bom tradutor deve desconfiar de todo e qualquer dicionário, porque existem dicionários mais completos e outros com menos detalhes, e talvez a omissão de algum detalhe possa ser fundamental na interpretação da palavra. A escolha por um dicionário monolíngüe foi justificada pela sua proximidade com a LM, tanto lingüística quanto culturalmente.

Como o trabalho do tradutor não se baseia na simples substituição de signos lingüísticos, quanto mais informações acerca da palavra conseguir, melhor condições terá de interpretá-la. O dicionário bilíngüe também tem sua função de ponte entre os léxicos de ambas as línguas envolvidas na tradução.

Outro fator observado foram as generalizações. Existe uma tendência em generalizar assuntos dos quais se tem um bom conhecimento. Porém, um trabalho de tradução, principalmente com a utilização de termos técnicos, possui um caráter informativo. Logo, quanto mais rico em detalhes forem os termos, maior quantidade de informação possuirá o trabalho. Isto, para se evitar o uso de generalizações – exceto quando não se trata do assunto principal que está sendo tratado, mas sim, assuntos citados como referência. As generalizações possuem um caráter mais abstrato, o que pode tornar vago o sentido do texto. Enquanto que, em um texto técnico, a utilização de situações concretas torna mais clara a sua interpretação com relação ao assunto em questão.Para se obter sucesso nesta tarefa, o tradutor deve estar muito bem informado a respeito de aspectos ligados aos conceitos e teorias pertinentes a ela.

A realização deste trabalho permitiu concluir que, em se tratando do ato tradutório, uma tradução eficaz baseia-se na substituição de material textual em uma LF por material textual equivalente em uma LM. Sim, dentre vários outros aspectos existentes na tradução, essa substituição de material textual pode formar a base para uma boa tradução. Esse trabalho também requer um intercâmbio de conhecimentos, de experiências e da cultura de outros povos. Pode-se então dizer que este intercâmbio é adquirido com o hábito da leitura, pois quanto mais bem informado for o leitor, mais bem sucedidas serão suas chances de transmitir a mesma mensagem na LM que o autor do texto original quis transmitir em LF. Tudo isto, levando em consideração a importância do conhecimento das competências inatas a ele ou não, que interferem na qualidade final do trabalho. Logo, concluiu-se que traduzir significa ler, produzir significados a partir de um determinado texto.

Para a análise foram utilizados os conhecimentos lingüísticos do tradutor acerca das LF e LM e dos termos técnicos na área de medicina – conhecimentos fundamentais para a melhor interpretação do texto; bem como a análise do texto, com a verificação dos aspectos sócio-culturais e técnicos que o envolvem. Assim, foi possível verificar qual a linguagem utilizada para proceder ao método mais coerente para a realização do trabalho.

Pôde ser observado que não existe apenas um método com estratégias únicas, mas a utilização de várias técnicas que formam o método de tradução de cada tradutor. As teorias propostas até então sobre o ato tradutório possuem, em sua totalidade, algum aspecto relevante a ser utilizado em um determinado tipo de tradução. Logo, uma tradução eficaz utiliza pontos específicos de várias teorias e, conseqüentemente, é possível afirmar que o uso de uma determinada teoria para a realização de um trabalho o deixaria incompleto, se não com relação à substituição de material textual, com relação à fidelidade da interpretação.

Um profissional bem preparado deve saber reconhecer tais momentos no ato tradutório, e, assim, aproximar ao máximo a tradução em LM de seu original em LF, visto que a tradução tem por objetivo ser fiel ao seu original, não distorcer o seu conteúdo e atender aos requisitos formulados por quem a solicita.

Fonte: http://www.abrates.com.br/abreartigo.asp?onde=O%20ATO%20TRADUT%D3RIO.abr (julho/2003)

Helen Ilza Borges de Oliveira

Bacharel em Secretário Executivo Bilíngüe pela Universidade Católica de Goiás (UCG-GO). Especialista em Língua Inglesa pela Universidade Católica de Goiás (UCG-GO) com monografia na área de tradução com o tema: “O Ato tradutório a partir do tradutor: um estudo de caso”.
Atualmente trabalha como Consultora e Professora de Língua Inglesa no eii - Espaço de Integração Idiomática e, também, como tradutora nas áreas comercial e técnica.

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