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sábado, 13 de março de 2010

Legendagem: Seus Possíveis e Impossíveis Erros

Por Pablo Lopes Queiroz.

Apesar de ser uma das áreas de maior alcance de público, a legendagem de filmes (assim como a dublagem) é um dos processos menos conhecidos entre os profissionais que se aventuram pela tradução.
Poucas especificidades da profissão são tão comentadas e, muitas vezes, tão criticadas
quanto a tradução de filmes. Todos nós já nos deparamos com um erro ou outro em um filme. Até mesmo profissionais experientes da tradução não fazem idéia das dificuldades e das armadilhas com as quais muitas vezes nos deparamos e das perdas linguísticas inevitáveis por razões além do ato de traduzir. Aspectos culturais e cotidianos, produtos e marcas, personalidades, enfim, uma grande variedade de informações para serem traduzidas, mas que se colidem com as limitações impostas pela natureza desse tipo de tradução.

Na legendagem, existem dois limites básicos a serem respeitados, o primeiro deve ser o número de caracteres (letras, espaço e pontuação) que cabem na tela da TV (o padrão é variável, mas costuma-se trabalhar com 31 caracteres na primeira linha e 29 caracteres na segunda linha) e o segundo, o tempo de leitura necessário para o entendimento do telespectador (no mínimo 1 segundo, no máximo 6 segundos de exposição). O número de caracteres da legenda é calculado de acordo com esse tempo disponível.

Como é algo tão presente no dia-a-dia das pessoas, o fato de se utilizar uma linguagem mais coloquial dá uma falsa impressão de simplicidade. Por trás dessa simplicidade há, na verdade, domínio da técnica, que é tão importante quanto o domínio do idioma. Esse é o “plus” da legendagem. Além dessas limitações técnicas, que devem ser respeitadas para garantir a qualidade final do produto (filme), esbarramos também na amplitude dos assuntos tratados: dramas românticos, modernos e clássicos, filmes sobre o dia-a-dia da máfia, sobre gangues de negros, gangues latinas, esportes pouco praticados no Brasil, brigas judiciais, medicina, filmes religiosos, filmes institucionais, técnicos, documentários, shows, entre outros “temas-obstáculo”.

O tradutor de filmes (legendador) encontra pela frente de tudo um pouco, dos mais variados temas e áreas de conhecimento. No artigo “Os Segredos de Quem Traduz e Legenda” de Luiz Joaquim, o mesmo entrevista uma das mais conceituadas legendadoras do Brasil, Monika Pecegueiro (fluente em inglês, espanhol e italiano) que para não cometer gafes não hesita em procurar sua “rede de consultores” ao encarar filmes de idiomas “exóticos” como o chinês, tailandês ou o mandarim. “Com um decente roteiro-guia em inglês, como o que acompanhava “Caminho Para Casa”, do chinês Zhang Yimou, a tradução saiu tranqüila. Isso não aconteceu com o alemão “Corra Lola, Corra”. Como tradução de tradução é uma coisa horrível (no caso, do alemão para o inglês, e do inglês para português), me vi na necessidade de convidar um amigo com proficiência em alemão para ajudar”, revelou Monika.

Como o detalhamento técnico de muitos filmes modernos requer uma linguagem peculiar, Monika também apela para profissionais de áreas especificas para aplicar o jargão que cada um costuma usar. “Essa adequação é o que diferencia uma tradução apenas correta para uma outra mais caprichada”. Em “Maré Vermelha”, por exemplo, ela trabalhou assessorada por um comandante da Marinha do Brasil.

Muito se fala da qualidade. Como já dito anteriormente no texto, as técnicas de tradução para legendagem e dublagem são muito específicas e muito diferentes entre si. No caso da legendagem e seus erros, foco principal desse artigo, o original está ali para ser comparado com a tradução. A visibilidade torna os erros mais banais, mais óbvios. Os espectadores passam a ser os críticos do trabalho do tradutor, muitas vezes sem base para tal. Se na legendagem padronizada o período ideal para nacionalizar um longa é de 20 dias, muitos tradutores salientam que na legendagem de filmes para festivais, por exemplo, “três dias já seriam maravilhosos”, mas nem sempre dispõe desse tempo. “Na Mostra-SP, segundo Marina Marinz (legendadora) recebi um filme às 14h, e ele seria exibido às 20h do mesmo dia. Foram quase duas mil legendas. Até hoje eu me espanto por ter conseguido”.

Na maioria dos casos contamos com a facilidade de roteiros anotados, que trazem explicações a respeito de expressões e referências culturais, tais como, por exemplo, o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving), não praticado no Brasil, mas culturalmente importante para os americanos. Filmes não permitem a utilização de “pés de página”, “parênteses explicativos” ou coisa parecida. As adaptações culturais sofrem e muitas vezes se perdem porque não há como se alongar em explicações ao espectador. Como ferramenta de trabalho, o roteiro também impede que o tradutor cometa erros de entendimento do que é falado na língua nativa, facilitando também o processo de tradução (o tradutor não precisará recorrer unicamente ao seu ouvido para entender a mensagem que o interlocutor quer transmitir).

“A condição ideal para o tradutor nacionalizar uma produção estrangeira reza que o filme venha acompanhado por uma fita em VHS e um roteiro em inglês, devidamente marcado com a ‘pietagem’. Este último termo técnico se refere à indicação das partes pelo qual o rolo de um filme é dividido. Enquanto em uma cópia de serviço de vídeo o timecode (composto por horas, minutos, segundos e frames) situa a extensão da história pela contagem do tempo”. Cada segundo de um filme é composto por 29 frames (quadros de imagem que compõe o filme).

É certo que há tipos de programação televisivas, principalmente as que envolvem transmissão de eventos, que não têm o roteiro, o que aumenta e muito a possibilidade de haver erros de tradução. Dicção, sotaque, captação do som original, problemas de gravação, tudo isso dificulta o levantamento do texto e, por conseqüência, o trabalho do tradutor.

Fonte: http://pabloportfolio.wordpress.com/category/legendagem/

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