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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Tradução de legendagem, de livros e de dublagem: mercados em expansão


Conheça três campos da profissão com estilos diferentes para os tradutores

Séries como Gilmore Girls (Sony) – das falastronas Rory, a filha, e Lorelai, a mãe – são um pesadelo para os tradutores para legendagem. Já os desbocados de programas como Parenthood (Liv) deixam muitos tradutores para dublagem sem dormir por ter muito palavrão – o que é proibido. E, para os tradutores de livros, piadas internas do país de origem ou poesias complexas pode atrasar a entrega de um trabalho. O telespectador ou o leitor que está sentado confortavelmente, vendo seu programa de TV favorito ou um filme ou lendo um bom livro, não imagina o sufoco que esses produtos podem causar ao tradutor. Mas é graças a ele que o número de livros estrangeiros se multiplicam nas prateleiras das livrarias e que o brasileiro pode descobrir uma série de programas vindos de diferentes partes do planeta.
Mas, se entre o tradutor para legendagem e para dublagem os pontos em comum são muitos, entre os dois e o tradutor de livros já não há tantas semelhanças. De qualquer forma, os três têm pilares fundamentais: todos precisam de profundo conhecimento do português (ou da língua para a qual o produto será traduzido) e da língua estrangeira, além de fortes conhecimentos de cultura geral. Há ainda o principal desafio em comum, aos tradutores, que é transmitir o que é dito no texto original com máxima qualidade e fidelidade. Mas, se o objetivo é o mesmo, a maneira como isso é produzido é bem diferente nesses campos.
Dilma Machado (Foto: Divulgação)Dilma Machado: tradutora para dublagem
(Foto: Divulgação)
Enquanto a legendagem resume a fala dos personagens, a dublagem recria o que está sendo dito. Outra diferença está no foco da cena. Para a legendagem, é impossível escrever tudo o que todos os personagens estão dizendo. “Você não pode poluir a tela. Se você poluir, ninguém vê o filme, só lê legenda”, diz o tradutor de literatura Carlos Nougué. Já para o tradutor de dublagem, sua missão é traduzir tudo o que está se dizendo na tela, ou seja, todas as vozes que podem ser ouvidas precisam ser traduzidas e dubladas. Ou seja, o trabalho é, no mínimo, o dobrado. Um exemplo são os trocadilhos. A legenda coloca a brincadeira de forma literal, e a dublagem usa uma piada brasileira “e que caiba na boca do personagem para manter a sincronismo labial”, explica Dilma Machado, especialista em tradução para dublagem.
Para os tradutores, o maior desafio de escrever a legenda é fazer caber a fala em poucos caracteres. Quando a fala dura um, aparentemente simples, segundo, o tradutor terá 15 caracteres para usar; dois segundos são 30 caracteres; três segundos de fala são, no máximo, 45 caracteres, divididos em duas linhas. Já de quatro a cinco segundos, o tradutor terá até 60 caracteres, o que significa duas linhas cheias.
Já para a dublagem é importante que haja sincronismo labial, se não em todos os momentos, que ela ocorra, pelo menos, nas últimas sílabas da fala do ator. “A gente costuma colocar as últimas sílabas iguais, ou seja, se a boca do ator termina aberta, mantemos o som final aberto, e se ele está com a boca fechada, usamos palavras com som fechado. Mas tudo isso tem que estar no contexto da cena, claro”, explica Dilma.
Anna Luisa Araujo (Foto: Divulgação)Anna Luisa Araujo: tradutora para dublagem e
legendagem (Foto: Divulgação)
A tradutora Anna Luisa Araujo faz tanto a tradução para legendagem como para dublagem. Ela já fez uma variedade grande de programas, muitos deles desafios que a fizeram consultar vários especialistas ou livros sobre o assunto. “Em Ases Invencíveis, por exemplo, tem muita linguagem militar e jurídica. E muitas coisas simplesmente não tem tradução no Brasil. São termos que só existem nos Estados Unidos”, conta a tradutora. O mesmo aconteceu com a série Flying Wild Alaska (Alasca: Perigo no Ar), do Discovery, sobre aviação. “É muito complicada para traduzir. Se eles falam: o operário usa o instrumento tal – e eles falam o nome do aparelho – fica impossível traduzir o nome do aparelho porque não tem equivalente em português”, diz.
Já quando Anna Luisa faz legendagem para os documentários sobre animais, ela recorre ao Zoológico para desvendar de qual espécie, em português, o programa trata. Ou, quando traduziu a série médica, Medical Investigation (Esquadrão Socorro), Anna Luisa comprou sua principal fonte: um dicionário médico que lhe custou R$300.
Mas, às vezes, não há dicionário ou fonte que possa ajudar. É preciso ter criatividade, mesmo. Quando Anna Luisa foi revisar a dublagem para a série da HBO Deadwood, teve que tirar da cartola alguns termos para se desvencilhar dos inúmeros palavrões ditos na tela. “Acabei usando, por exemplo, rabo de saia para descrever ou falar das prostitutas”, exemplifica.
Na série In Plain Sight (que em português ficou Testemunha Ocular) a agente especial Mary Shannon (interpretada pela atriz Mary McCormack) fala muito rápido. Nesse caso, a tradutora para dublagem Dilma Machado cortou um dobrado para manter a ideia da melhor forma possível. “A dubladora não vai conseguir falar tudo. É preciso adaptar. De qualquer forma, você tem que respeitar o tempo de entrada e de fim da fala de um para não atropelar a fala do outro personagem”, diz.
Hoje, Dilma é apaixonada pela tradução para dublagem. Ela já fez longas como Garfield, A Era do Gelo 3 e séries como Desperate Housewives e Nip/Tuck, que, no Brasil virou Estética. “Uma coisa importante que todos devem saber: o tradutor não decide o título de um filme ou o nome de uma série. Quem faz isso é o cliente. Nós, no máximo, sugerimos”, defende a classe.
Muitos profissionais da tradução caíram de paraquedas na profissão, mas acabaram gostando e ficando. Quem levou Anna Luisa Araujo à tradução para legendagem, por exemplo, foi a paixão pela série Jornada nas Estrelas. “Um amigo meu escreveu para a empresa que fazia a tradução para a TV brasileira reclamando da dublagem e eles o convidaram para fazer o trabalho”, lembra. Não demorou muito para que esse amigo a chamasse para ajuda-lo. Já Dilma Machado, depois que engravidou, foi fazer curso de dublagem numa empresa especializada. Antes de sair da sala, disse que também era tradutora. “Três dias depois me deram um filme para fazer a tradução da dublagem. Mas, como nunca tinha feito, entreguei com várias coisas erradas, como formatação, letra muito grande, essas coisas”, conta.
Carlos Nougué (Foto: Divulgação)Carlos Nougué: tradutor de mais de 300 livros
(Foto: Divulgação)
O tradutor Carlos Nougué, há 30 anos na profissão, tradutor de 300 livros e vencedor de um Prêmio Jabuti de Tradução com ‘Cristóvão Nonato’, de Carlos Fuentes e tradutor para o latim, francês, inglês e espanhol, começou a traduzir porque precisava ganhar dinheiro. Recém-formado em filosofia, não conseguia emprego, e começou com um livro de poesias. Hoje em dia, traduz mais livros de filosofia, por dominar bem o assunto. “Sou rápido. Posso fazer 30 páginas por dia”, diz o tradutor.
Ao contrário da tradução para legendagem e para dublagem, para fazer a transposição de um livro para outra língua, é preciso ser o mais fiel possível ao autor, selecionando muito bem as palavras e fazendo as transformações de estilo o mais próximo possível do original. Enquanto para a legenda a piada é traduzida literalmente, o tradutor de livros tem a possibilidade de utilizar uma piada do português, pegando uma referência brasileira. “Você tem que reproduzir até o espirro do autor”, brinca Carlos. Mas nem sempre foi assim.
“Existiam três correntes, três formas de pensar a tradução: a primeira delas era a do ‘serve qualquer coisa’, ou seja, não estavam preocupados com a fidelidade do que escreviam; a segunda é a dos irmãos Campos, que acreditavam na cocriação. Essa corrente predominou até os anos 1980, quando Humberto Eco, que fazia parte dessa corrente mudou de lado e lançou o livro ‘Quase a mesma coisa’. Nesse livro, ele valoriza a fidelidade absoluta, que é a terceira corrente e a mais em voga ultimamente”, resume Carlos.
Muitos escritores famosos já fizeram traduções como uma forma de complementar a renda. “Eles faziam como um bico. A maioria não era tradutor”, resume Carlos. Segundo ele, naquele momento “havia muita picaretagem”, diz. Sua teoria é que eles não tinham preparo, mas também não conseguiam se desprender do próprio estilo para abraçar o do autor a ser traduzido. Um dos exemplos é o de Monteiro Lobato, que, ao editar as páginas, eliminava uma ou outra. Ainda segundo Carlos, os melhores escritores-tradutores foram Manuel Bandeira e Mário Quintana. “Por terem estilos singelos, simples, eles captavam melhor o estilo alheio”, explica sua teoria.
Mas, nos dias de hoje, o mercado não aceita mais tradutores despreparados. Não é para menos. Universidades montam cursos de especialização na área, há muitos livros a respeito e muita competição. “Hoje as pessoas estão se profissionalizando na área. Tem até doutorado”, explica Carlos, que é professor do curso de extensão Lato Sensu da Cândido Mendes.

4 comentários:

Dri Noleto disse...

Caro Marco, suas postagens são interessantes e muito esclarecedoras!
Obrigada,
Adriana

Nathalia disse...

Oi Marco, conheci seu blog apenas hoje e já adorei. Obrigada por todos as dicas. Gostaria de fazer tradução para legendagem e tenho uma dúvida, as empresas contratam a pessoal como um freelancer, autônomo ou como uma entidade jurídica? Você acha que vale a pena ser autônomo ou ter um CNPJ? Pois li que hoje em dia as empresas preferem contratar alguém com CNPJ e não autônomos por uma questão de custos.

Nathalia disse...

Oi Marco,
comecei a ler seu blog hoje e já estou adorando todas as informações. Eu já tenho uma noção de como mexer em programas de legendagem e gostaria de começar a trabalhar na área. A minha maior dúvida é se devo ter um CNPJ ou posso trabalhar apenas como autônoma. Fazendo algumas pesquisas na internet, ouvi de alguns tradutores que as empresas estão contratando apenas ME com CNPJ para diminuírem custos, gostaria de saber se isso se aplica à área da legendagem também.

Marco Azevedo disse...

Obrigado Dri Noleto e Nathalia. Gosto de repassar os conhecimentos que adquiri ao longo da prática como tradutor legendista. Pena que poucos usuários como vocês duas dão o retorno deste trabalho. Nathalia, antes de responder à sua pergunta, é importante que definamos os termos que você apresentou: "freelance" ou "freelancer" é um termo da língua inglesa que equivale a profissional autônomo em português. Quando você passa a ter um CNPJ, você torna-se automaticamente uma entidade jurídica no meu entender. O fato é que como freelancer, juridicamente você não tem vínculo empregatícios com o empregador; isto é, ele não terá encargos com você, já que as empresas exigem uma nota fiscal de prestação de serviço (o imposto é pago pelo executante do serviço) ou então um RPA (Registro de Pagamento a Autônomo) no qual também é recolhido imposto em que a % é definida conforme o valor pago. Então afirmo que você precisará emitir um RPA ao cliente (não é necessário ter CNPJ) e o modelo pode ser encontrado no site do COSIF (www.cosif.com.br/downloads/modelo-rpa.xls). Ou então obter um CNPJ para emitir nota fiscal de prestação de serviços por meio do cadastro na prefeitura da sua cidade. Essas são as duas opções. E realmente quase todos os cliente irão pedir RPA ou nota fiscal de prestação de serviços. Espero ter esclarecido. Caso contrário, poste sua dúvida.

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